Números reais que cismam em negar que o mercado do livro realmente esteja em crise

Quem lê as notícias e colunas e relatos e desabafos de velhos editores sobre o mercado do livro corre o risco de achar que, em um futuro brevíssimo, ninguém mais lerá no Brasil. Entre campanhas mendicantes e notícias de recuperação judicial, afinal, a que outra conclusão se pode chegar? 

Pois bem: do nosso lado, das trincheiras da literatura independente, sempre falamos o oposto: não há crise com o livro uma vez que os leitores brasileiros estão cada vez mais vorazes e em maior número. O que explica as notícias negativas, então? Em nossa opinião, a falta de modernização das empresas mais tradicionais do ramo, que cismam em operar como se ainda vivêssemos na década de 80, desconsiderando o mar de novos títulos que temos todos os dias, o estilo nichado da demanda e a própria possibilidade de vender em multiformatos que vão desde o audiolivro até a impressão sob demanda (o que também praticamente destrói a necessidade de estoques tão gigantescos quanto os custos atrelados às suas manutenções).

Mas essa é so a opinião de uma empresa do mercado, certo? Errado. 

Saiamos das opiniões, então. 

Que tal deixar as notícias opinativas, tendenciosas, e olhar números brutos reais e atualizados? Todo mês, o SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) publica um relatório chamado Painel de Vendas, contendo os números reais e consolidados de todo o setor. Estivéssemos mesmo em crise, os números seriam assustadores, certo? Veja então a realidade, abaixo, no atualizadíssimo relatório de outubro de 2018 (que você também pode baixar clicando aqui). Os dados abaixo refletem o período de 13/08/2018 a 09/09/2018 comparado a 14/08/2017 a 10/09/2017. 

  • Crescimento de vendas (em volume): 3,65%
  • Crescimento de vendas (em valor): 5,37%
  • Crescimento de ISBNs registrados: 6,40%

Se compararmos o período inteiro, de janeiro até setembro, houve um crescimento acumulado de 5,70% em quantidade de exemplares vendidos e de 9,33% em valores faturados.

Se quiser mais detalhes, pode baixar o relatório diretamente aqui.

Mas um crescimento de faturamento de quase 10% em um ano em que o país inteiro deve crescer algo como 1,4%, depois de uma recessão como nunca antes vimos, parece algo longe de caracterizar uma crise generalizada no setor… certo? 

 

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

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