Chegue, enquanto escrevia aqui no blog na quarta passada, a uma questão que julgo interessante: seriam os grandes romances da humanidade aqueles que conseguem mesclar épicos envolventes, densos, a pensamentos capazes de gerar súbitos e imediatos orgasmos mentais?
Perceba o raciocínio: as grandes obras são necessariamente feitas de tramas engendradas, complexas, densas ao ponto de praticamente catapultar seus leitores a universos impensáveis. No entanto, essa viagens mentais proporcionadas acabam requerendo tanta concentração que pinceladas de genialidades acabam sendo necessárias até para manter o entusiasmo alto.
Exemplos?
Não faltam. Veja esses, com citações por si só mesmerizantes de livros cujos enredos são densos ao ponto de terem mudado os pensamentos das suas épocas:
Anna Karenina, de Tolstoi: “Todas as famílias felizes se parecem, mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira.”
O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupery: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”
A Máquina do Tempo, de H. G. Wells: “Soa plausível o suficiente hoje à noite, mas espere até amanhã. Espere pelo bom senso da manhã.”
Jane Eyre, de Charlotte Brontë: “A vida me parece curta demais para ser gasta cuidando de animosidades ou registrando malfeitos.”
Dom Quixote, de Miguel de Cervantes: “Finalmente, de tão pouco dormir e de tanto ler, seu cérebro secou e ele perdeu a cabeça completamente.”
Kafla à Beira Mar, de Haruki Marukami: “Memórias te aquecem por dentro. Mas elas também te rasgam por inteiro”.
O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde: “Hoje em dia se sabe o preço de tudo e o valor de nada.”
Grandes Esperanças, de Charles Dickens: “Nunca devemos nos envergonhar das nossas lágrimas.”
Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa: “O amor? Pássaro que põe ovos de ferro.”
E por aí lá vai, beirando o infinito.
Sim: pode até ser que alguma grande obra qualquer tenha sido tecida sem essas pequenas pílulas de embasbacamento… mas acho difícil. A utilidade dessa conclusão? Uma aula para os novos autores dada pelos grandes mestres.
A genialidade de uma história deve vir tanto em suas completude quanto em pílulas transversais.