A Bienal de São Paulo está ganhando um tipo de destaque que não tinha faz tempo.
Seria isso uma luz no fim do túnel, um sinal de que o mercado editorial brasileiro está se reerguendo depois de anos em crise, sendo puxado por uma população que subitamente descobriu o prazer da leitura?
Sou cético. Luz no fim do túnel, ao menos neste caso, é um conceito simplesmente inaplicável. O motivo? A “luz”, se assim podemos chamá-la, já foi acesa faz anos com o conceito de autopublicação. Desde o começo nos anos 2000, quando empresas americanas decidiram apostar na impressão sob demanda como maneira de viabilizar o espaço para novos autores, tudo mudou radicalmente.
No Brasil, nós tivemos a honra de inaugurar este mercado e, hoje, recebemos cerca de 25 novos livros por dia – algo na casa dos 20% de todos – todos – os livros publicados anualmente em nosso país.
Talvez precise me contextualizar um pouco no raciocínio para não acabar perdendo-o. Acredito que sejam dois os elementos fundamentais para se “resgatar” o mercado editorial. O primeiro, claro, é a oferta de novos títulos, de opções que saiam da mesmice literária na qual estávamos imersos há tanto tempo. E esta, correndo o risco de me tornar repetitivo, já foi solucionada. Seja por via dos ebooks (ainda que com uma participação pequena, de cerca de 5% do mercado de livros no Brasil) distribuídos pela Apple, Google ou Amazon ou pelos impressos viabilizados aqui pelo Clube, o fato é que cada vez mais autores estão chegando em seus públicos.
Fantástico.
Mas esse primeiro elemento, essa mudança na oferta, veio quase que de surpresa, abaixo do radar, e independeu de qualquer grande bienal que sempre se promoveu como um compilado de grandes vitrines de grandes editoras e livrarias que, ironicamente, nunca precisaram de grandes vitrines. Em outras palavras: o próprio mercado solucionou a questão da oferta de novos títulos sem que bienais tivessem sequer uma mínima participação.
O outro lado da equação é o mais óbvio: a demanda.
Sempre se disse que o brasileiro lê pouco, embora esteja lendo cada vez mais. Seremos, um dia, um país de leitores tão ávidos quanto os suecos? Duvido. Mas que estamos melhorando ano a ano, estamos.
Precisamos mesmo de uma Bienal para isso?
Infelizmente, sim. Infelizmente, só o que faz o livro ter destaque na mídia é um evento de grande porte, um evento capaz de mover centenas de milhares de pessoas e, por consequência, de se transformar em uma pauta interessante para os grandes veículos de comunicação.
Com cobertura da imprensa, histórias começam a ganhar visibilidade, livrarias começam a ganhar mais visitantes e as vendas, quase que de maneira natural, passam a crescer em volume.
Em um país que ainda lê pouco, ter o livro como destaque na imprensa é fundamental para que leitores adormecidos sejam instigados a escolher alguma história nova em alguma prateleira qualquer. Em um país ainda que lê pouco, bienais acabam são fundamentais para lembrar ao público de que livros existem.
Nesse raciocínio, o grande mérito da Bienal de São Paulo é simplesmente o de existir, deixando o livro como assunto central.
Mas faço aqui um pequeno à parte: os mesmos livros que podem ser encontrados nos pavilhões superlotados e exaustivos de uma feira gigante podem também ser encontrados em pequenas livrarias de bairro ou na hiper cômoda Internet. O que isso significa?
Que, ironicamente, o maior sucesso da Bienal de São Paulo será atingido quando ela não for mais necessária para instigar a leitura, quando o público entender que não é necessário aguardar dois anos para pensar em ler uma vez que há tantas opções espalhadas por todas as cidades do Brasil.
Se você não foi à Bienal de São Paulo, recomendo um programa à parte: vá a uma livraria gostosa perto de você (ou na Internet) e escolha um livro que agrade.
Leia mais.
Transforme isso em hábito, caso ainda não seja.
Basta isso para que a Bienal seja um sucesso retumbante. Até que ela deixe de existir.
Belo texto! Bela reflexão! Faltou dizer que a Bienal se tornou um evento elitista, pra poucos. O valor do ingresso sofreu reajuste. O estacionamento, para quem vai de automóvel, está R$40 e, quando entramos no imenso galpão que é o Anhembi, encontramos mais do mesmo. As mesas editoras grandes e poderosas e os mesmos velhos e badalados (pelo excessivo marketing sobre eles) autores.
Verdade Angelo…. nem tinha pensado nessa questão do estacionamento caríssimo!!