Na era pre-Internet, as grandes bienais (principalmente São Paulo e Rio), além de feiras internacionais de grande porte, eram tidas como fundamentais para o segmento editorial como um todo. Nelas, novidades do mercado eram anunciadas, profissionais do livro se reuniam e consumidores conseguiam se aproximar de seus ídolos e se sentirem mais próximos das histórias que consumiam.
Isso mudou.
Hoje, as grandes novidades do mercado aparecem antes pela Internet: a era da comunicação transformou encontros físicos em coisa quase desnecessária para este propósito. Isso é especialmente verdadeiro no Brasil: enquanto feiras internacionais são também usadas para lançamentos de títulos poderosos, nosso cenário é outro. Aqui, o investimento em autores brasileiros é tão mínimo – e tem caído tão bruscamente nos últimos anos – que há poucas novidades. Pouquíssimas.
As grandes feiras se transformaram em feirões de desconto de livros – um péssimo negócio para todos os envolvidos. O motivo? Simples: na era da Internet, com o ecommerce que segue crescendo mesmo a despeito de crise, enfrentar filas e multidões, pagar ingresso, andar quilômetros em ambientes abafados e se estapear para ser atendido para comprar um livro com desconto é desnecessário. E o que tende a acontecer com eventos que solucionam problemas desnecessários? Eles desaparecem.
Isso não significa que não haja espaço para feiras de livro: há, e muito. Em primeiro lugar, porque é um momento onde se pode reunir, sob o manto da literatura, os amantes das letras; e, em segundo, porque sempre há o que se falar sobre livros. Só há que se mudar o modelo.
Talvez não haja espaço para feirões gigantescos e tumultuados: da mesma forma que as livrarias modernas, há que se transformar esses eventos, que mudá-los em forma e conteúdo. Talvez o ideal seja mudar o modelo para algo mais intimista e aprofundado – algo como Flips e afins, sempre repletas de palestras e bate-papos relevantes.
Eventos mais intimistas quebram a barreira entre autor e leitor: todos viram participantes ativos de um processo de narrativa, interagindo, se conhecendo, trocando experiências e expectativas.
O Clube de Autores nunca participou de grandes bienais justamente por isso: nosso papel em eventos é, antes de mais nada, o de trocar histórias: contar a nossa, ouvir as dos nossos autores e buscar sinergias para que construamos novas histórias juntos. Temos dificuldade em sequer entender eventos literários que buscam algo diferente disso.
Aparentemente, estamos deixando de ser os únicos pensando assim. Na medida em que o mercado editorial brasileiro entra em uma crise sem precedentes, muitos de seus principais expoentes começam a repensar tudo: modelo de negócios, de comunicação, de interação.
Que bom: nenhuma hora é melhor para mudar o que não está funcionando do que o agora. E sabe o que é perfeito? No mundo todo, quem mais está ganhando espaço e oportunidade com essas mudanças é o setor de autopublicação e, claro, os autores independentes que estão desbravando os novos territórios literários.
Eventualmente, não se discutirá mais como autores independentes podem participar de eventos, mas sim como os eventos podem ser construídos de maneira a destacar e fortalecer a autopublicação, principal berço dos novos talentos em todo o mundo.
Os autores independentes poderíamos vender em feiras organizadas nas praças das cidades do Brasil. Cada praça teria uma feira por cidade cada certo tempo , com permissão de prefeitura o custo disto estaria perto de zero. Meu contato sergio@tastyplus.com.br
Fantástica ideia, Sergio!
“O Clube de Autores nunca participou de grandes bienais justamente por isso”. Tenho pra mim que o Clube nunca participou por falta de disposição em investir no segmento. O sonho de qualquer escritor é o de participar de grandes bienais, é o de ver seu livro exposto nesses espaços tradicionais. A Bienal Internacional do Livro de São Paulo, a cada biênio quebra recordes de público e de vendas. Ainda é um modelo que tem muita lenha pra queimar.
Eu quero participar da A Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
Oi Teresa! Recomendamos então que contate diretamente a organização do evento. Só ressaltamos aqui o que sempre ouvimos de escritores que participam: estar presente não significa que um único exemplar será vendido lá. Significa apenas que você estará na bienal. Mas sem um investimento forte em marketing, os resultados dificilmente virão.
Oi Vinícius. Veja: nós somos todos autores aqui no Clube. Aliás, o próprio motivo de montarmos o Clube foi para facilitar a vida de escritores como nós, com dificuldades no mercado editorial tradicional. Com o tempo, de 2009 para cá, fomos testando muita coisa, trocando experiência, acompanhando carreiras e formando as nossas próprias opiniões com base no contato com a comunidade do Clube que, hoje, é a maior da América Latina.
Nós realmente não somos um grupo corporativo de grande porte e a decisão de investimento passa muito mais pela matemática do que pela “disposição” – até porque não temos nenhuma ideologia contra ou a favor de bienais. Por que não participamos de bienais? Além dos motivos já citados, porque o investimento realmente é alto DEMAIS para nós frente a um retorno pífio.
Se o retorno fosse bom, afinal, não haveria motivo algum para não participarmos. A própria matemática explicaria: se, da mesma forma que os autores, nós vivemos exclusivamente da venda dos livros – e se estar presente nas bienais fizesse as vendas aumentarem – a decisão de participar seria até mesmo óbvia.
Permita-me apenas uma observação com base em escritores amigos que já participaram de grandes feiras: o sonho de todo escritor independente que nunca participou de uma bienal é participar de uma bienal. Digo isso porque quem já participou sabe que, a não ser que tenha uma editora gigante por trás ou um investimento poderoso em marketing, estar presente nem de longe garante que se venda um único exemplar.
concordo com você,vender pela internet é muito difícil,é mais fácil chegar diretamente na pessoa,conversar com ela e convencê-la a ficar com o produto