O choro premeditado do mercado editorial brasileiro

Por Marcelo Wolowski

Muito tenho ouvido e lido a respeito da situação precária que vive a indústria editorial no Brasil. A situação, que já era péssima há pelo menos 3 anos, ganhou notícia a partir do momento em que as duas grandes livrarias do mercado nacional pediram recuperação judicial.

O que aconteceu no Brasil não foi muito diferente daquilo que aconteceu nos Estados Unidos e em vários países Europeus. O tradicionalismo foi devastado por uma enorme capacidade de inovação e de investimentos.

Não quero abordar a capacidade de investimento neste texto, pois reconheço que a competição é muito desigual. Porém, quando o assunto é inovação, o brasileiro é o maior culpado.

No mundo dos livros, a gigante americana inovou quando começou a entregar seus livros num prazo muito curto se comparado aos padrões até então estabelecidos e ao desenvolver uma plataforma de autopublicação (self publishing) onde novos autores pudessem rapidamente publicar seus livros e vendê-los no “varejo”. Sempre inovando, adotou o produto livro também como isca para alavancar vendas de outros produtos dentro de sua própria loja, utilizando-se de uma plataforma de inteligência que recomenda outras opções aos seus então fidelizados clientes.

Assistindo ao movimento mundial no setor, em 2012 foi fundada no Brasil uma empresa que oferecera uma plataforma de tecnologia para autopublicação de livros na língua portuguesa. Esta mesma plataforma, inseriu no mercado brasileiro o conceito de Impressão sob Demanda, viabilizando um modelo de negócios inédito no mercado editorial, quando ficou viável economicamente a impressão de um único exemplar. Tal solução oportuniza condições para que novos autores apareçam e vendam seus livros nos grandes varejos do Brasil, mas também surgiu como uma solução para redução de estoques, diminuição do capital de giro e minimização da ineficiência do modelo de operação tradicional da cadeia de fornecimento e fluxo de capital na indústria editorial brasileira.

Refiro-me ao Clube de Autores, que também desenvolveu a plataforma Profissionais do Livro, onde prestadores de serviços oferecem suas habilidades e conhecimentos aos novos autores a fim de melhorar o produto livro quanto a sua capa, diagramação, revisão ortográfica, entre outros tantos serviços lá oferecidos.

Infelizmente, somente em 2018, é que a indústria editorial nacional deu espaço para uma aproximação e parceria com o Clube de Autores. Dois grandes varejistas entenderam a relevância do livro no varejo, bem como dos novos modelos editoriais, e passaram a distribuir os títulos autopublicados. O resultado: a empresa deve fechar um dos anos mais devastadores para o mercado editorial com um crescimento de 30%.

E este, embora seja apenas um caso de inovação no mercado nacional, é suficientemente relevante para exemplificar que com um pouco mais de ousadia, a situação não estaria tão ruim.


Marcelo Ferrari Wolowski é sócio fundador da Bzplan, gestora de fundo de investimentos em empresas inovadoras. Investiu nas empresas Axado, Cata Company, Clube de Autores, EadBox, PhoneTrack, Rede Vistorias e MobLee. Membro atuante da Acate no Grupo de Trabalho de investimentos no setor de TIC em SC. Formado em Administração de Empresas pela ESAG/UDESC e MBA pela Suffolk University.

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

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