O negócio do livro talvez seja um dos mais velhos e persistentes da humanidade. Mesmo lá atrás, muito antes do Gutenberg pensar em caminhar sobre a terra, pequenas livrarias já se espalhavam pela Atenas do século V A.C – sem contar as tantas bibliotecas de proporções bíblicas que catapultaram civilizações inteiras para suas eras douradas.
Dos pergaminhos da antiguidade aos livros copiados pelos monges à invenção da prensa, o negócio da palavra escrita mudou principalmente em sua forma e em seu processo produtivo. Ou, colocando em outros termos, portabilidade e escalabilidade, permitindo que mais e mais pessoas pudessem produzir e adquirir conhecimento.
Praticamente todas as grandes revoluções da nossa história iniciaram-se em livros, esses pequenos objetos tão perfeito para fazer circular novas ideias de mundo. Religião, filosofia, ciência, entretenimento… praticamente todas as grandes faces de qualquer civilização mostram-se a partir de e por meio de livros.
Ainda assim, foi somente até pouco tempo que seu mercado realmente entrou em uma era de mudança realmente dinâmica.
Via impressão sob demanda, o processo produtivo alcançou a eficiência extrema de não se precisar assumir o risco de existência de estoques excessivos. Via e-commerce, a facilidade de compra alcançou seu extremo. Via plataformas como o Clube, todos puderam passar a se publicar e a se vender. Evoluções tecnológicas, livros somaram a si novos formatos de consumo, seja em tela ou em ondas sonoras, com os audiobooks.
Em meio a todas essas mudanças, impérios globais de comércio eletrônico buscaram estender-se mundo afora e, com práticas por vezes eticamente questionáveis – como o dumping – aniquilar a concorrência e estabelecer-se como monopólio. O que, ainda bem, não aconteceu tal qual planejavam graças às próprias forças do mercado, mais atentas e espertas do que se imaginava.
Outras empresas investiram em redes de megastores, criando ambientes tão perfeitos para consumo literário quanto difíceis de serem financeiramente sustentáveis.
Como se não bastasse, tivemos ainda uma pandemia que aniquilou, por algum tempo, toda a receita de livrarias de rua em todo o mundo e mudou, mais uma vez, essa dinâmica de mercado.
Depois da tempestade…
Hoje, alguns anos depois da pandemia, da quebra das duas maiores redes livreiras do Brasil – Cultura e Saraiva – e de uma espécie de calmaria no horizonte, o mercado parece ter se definido de maneira um pouco mais clara.
As livrarias de rua não só reafirmaram suas relevâncias como se firmaram como o principal local para se descobrir a literatura. Onde melhor que entre páginas vivas para escolher o próximo livro a ser lido, afinal?
Sua pujança, aliás, tem sido tanta que, na União Europeia, por exemplo, 45,6% das vendas de livro ocorreram em livrarias físicas em 2022 (versus 43,6% em 2021).
O que motivou esse crescimento, repetido em números semelhantes por todo o mundo? Uma curadoria mais alinhada com os gostos da clientela local, uma equipe de vendedores mais especializados e, claro, o próprio ar cultural magnético que exala de coleções de livros.
A Martins Fontes
Enquanto tudo isso acontecia – dos terremotos que sacudiram o mercado aos bons ares que agora parecem acalmá-lo – uma livraria extremamente tradicional, sediada na capital paulista, manteve-se firme na condução do seu negócio: a Martins Fontes.
Atenta a eventuais riscos, percebendo oportunidades, mantendo-se fiel à sua própria proposta de marca, ela é hoje uma das mais admiradas livraria do país – e é o alvo do episódio de hoje.
A Martins Fontes – e eu gostaria de adicionar isso antes de iniciarmos as conversas – foi dos primeiros clientes corporativos do Clube de Autores. Sua dinâmica era simples, mas extremamente eficiente: ouvir o que os seus consumidores pediam e, quando sentiam necessidade, encomendar livros de nossos autores, aqui no Clube, para vender em suas prateleiras. Muito tempo antes do acordo que agora fizemos com a ANL, permitindo a oferta dos nossos livros para centenas de livrarias de rua, ela foi pioneira nessa dificílima arte de não dizer “não, não temos” ao seu cliente.
Como ela atua? Como pensa? Como atravessou esses mares revoltos do passado e para onde se guia no futuro? Ninguém melhor que Alexandre Martins Fontes, seu Diretor Executivo, para nos contar.
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