“Saudade” é, curiosamente, uma daquelas raras palavras que existem apenas na língua portuguesa. Talvez pelas lágrimas deixadas pelas tantas separações que caracterizaram a formação do nosso idioma – e falo aqui desde as cruzadas ibéricas até as grandes navegações até a praga da escravidão – o fato é que a saudade, por mais que seja um sentimento universal, parece ser algo entendido de maneira peculiar pelos povos lusófonos.
Somos, afinal, povos que se criaram isolados do mundo. No Brasil, maior país lusófono do planeta, somos cercados por hispano-americanos de um lado e pelo Atlântico de outro. O intercâmbio com nossos vizinhos latinos é mínimo, principalmente se considerado o intercâmbio entre eles que partilham o mesmo idioma-mãe como Colômbia, Peru, Argentina, Chile etc.
Portugal, com uma população menor que a cidade de São Paulo, segue a mesma geografia e espreme-se entre as águas de Netuno e as línguas espanholas.
Angola e Moçambique dividem a ponta sul da África – mas, entre eles, todo um rol de países engrossa uma quase intransponível fronteira sócio-cultural.
Cabo Verde e São Tomé e Príncipe são cercados pela língua surda das marés, distantes de tudo e de todos.
Timor-Leste, encravado na distantíssima Oceania, mal é lembrado pelos irmãos de idioma.
E assim vão também os tantos outros países lusófonos, todos distantes uns dos outros, todos separados por mares e terras e povos, todos tão distantes de seus irmãos que pouco surpreende terem cunhado este tão singular termo, “saudade”.
E Saudade é justamente a pauta de hoje – só que por um ângulo diferente. Falo da Editora e Distribuidora Saudade, fundada por um brasileiro e português, que tem como missão justamente a construção de pontes literárias entre nossos povos espalhados pelo mundo.
Não preciso dizer aqui o quanto isso interessa ao autor do Clube neste momento, em que estamos iniciando nossas operações internacionais com distribuição pela Europa (e, no brevíssimo futuro, por outros continentes). Todo um novo universo de leitores em potencial os aguarda nesses lugares distantes – e todo um novo universo de autores desses lugares distantes aguardam a inauguração dessa ponte lusófona.
Dito isso, iniciemos o papo de hoje com o fundador e CEO da Editora e Distribuidora Saudade, Jaime Mendes.
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