Podem me chamar de antiquado ou ultrapassado, mas eu nunca acreditei muito nesse negócio de usar a comunidade para escrever um livro a milhares de mãos. Não me entendam mal: acho o poder da colaboração e de se colocar um sem fim de pessoas no mesmo barco do escritor algo fora de série: isso ajuda a inspirar, a divulgar, a espalhar a história mais do que qualquer coisa.
Mas escrever… escrever é outra história. Escrever é registrar no papel (ou na tela) traços do inconsciente que, por vezes, o próprio autor ignora ter. É navegar pela inevitavelmente solitária mente, forçando sinapses a partir de memórias e imaginações que, no canto escuro dentro da cabeça, acabam virando uma coisa só.
Claro: ouvir críticos, sejam leitores ou mesmo editores, sempre pode ajudar a transformar uma matéria bruta em uma obra prima: nunca falei que não se deveria contar com a opinião alheia. Mas daí a permitir que um universo de outras mentes participe ativamente na construção de uma história é, ao menos em minha humilde opinião, tentar transformar uma musa inspiradora em um Frankenstein. Para que? Falta de coragem de seguir seus instintos, de se expor, de se impor?
Não vou entrar nas tantas possibilidade s de motivo aqui – mas vi um artigo dia desses na Fast Company que brinca com o assunto de maneira divertida. Já imaginou, por exemplo, se F. Scott Fitzgerald tivesse aberto o Grande Gatsby para colaboração? O que teriam dito os usuários? Teria ele mudado a história e a transformado de obra prima em novelinha besta das seis, reduzindo o seu impacto na humanidade a quase nada?
É uma pena que o artigo esteja em inglês – mas dominar o idioma deve lê-la sem dúvida!
Segue no link http://www.fastcocreate.com/3045189/this-is-what-would-happen-if-the-great-gatsby-was-branded-content?partner=rss#2
Tudo vai depender do tipo de conteúdo que vai escrever. Se for voltado a pesquisa bibliográfica, de campo, científica a coisa funciona por meio da colaboração. Doutra sorte, o documentário não será documento mas, uma multidão de palavras jogadas aleatoriamente. No caso da crônica, do conto, poesia, e outros estilos o que vale mesmo é a imaginação. inspiração e a memória de uso contínuo dos autores. Cada obra literária tem seu valor positivo. Discordo de sua forma de ver. Por outro lado lhe dou razão porque enxergas a literatura numa visão de mercado e não cultural.
Olha, concordo em partes. Talvez uma boa história não surja em um brainstorming, até hoje não conheci nenhuma. Porém, textos acadêmicos ou didáticos podem sim ser muito beneficiados por essa rede de colaboradores. Um exemplo é o livro Business Model Generation, o texto é tão em que parece criar vida e a lista de coautores parece com os créditos de um filme hollywoodiano. Entendi o seu recado, no entanto, como livros não contam apenas histórias, dscordo.