O mercado editorial brasileiro apresentou um crescimento robusto em 2025, impulsionado por políticas agressivas de desconto e um aumento na demanda. Mas os dados revelam nuances interessantes: preços médios em queda, concentração nos best-sellers e mudanças nos gêneros preferidos.
Neste texto, vamos apontar os principais dados deste relatório e faremos algumas análises para você entender mais sobre o mercado literário. Boa leitura!
O que é o Painel do Varejo de Livros no Brasil?
Lançado em abril de 2015 por meio de uma parceria entre o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e a Nielsen BookScan Brasil, o Painel do Varejo de Livros no Brasil é uma das principais fontes de dados do mercado editorial brasileiro.
- Como funciona: os números são coletados diretamente do caixa de livrarias físicas, e-commerces e varejistas parceiros, capturando vendas reais (não inclui vendas diretas de editoras ou distribuição para governo/bibliotecas).
- Periodicidade: divulgado mensalmente, o relatório ajuda editoras, livrarias e investidores a entenderem tendências, desempenho de gêneros e eficácia de promoções.
Por que ele importa? É o termômetro do consumo de livros no Brasil, revelando não apenas o que está vendendo, mas como (descontos, preços médios, sazonalidade).
Mercado independente: infelizmente, o Painel também não abraça os números do mercado independente do livro.
Análise dos números – período de maio (2025 vs. 2024)

Agora, vamos entender o que o relatório de maio de 2025 nos diz sobre a realidade do mercado literário. Confira:
1. Crescimento com Sabor Amargo
Volume de vendas (+20,09%) e Valor (+19,67%) subiram, mas os descontos médios explodiram (+15,95 p.p.).
Isso significa que o mercado está “compensando” a queda no poder de compra com promoções agressivas. Apesar do aumento das promoções ser algo bom para o leitor, há também riscos. Margens menores para editoras e livrarias e dependência dessa estratégia. Então, fica o questionamento: se os descontos forem reduzidos, as vendas mantêm o ritmo?
2. O poder dos best-sellers
Queda de -9,21% nos ISBNs vendidos (menos novos títulos em circulação) + Top 500 representa 28,98% do volume.
Este número aponta o aumento do “conservadorismo’ do mercado, com livrarias e consumidores priorizando “o que já é sucesso”. Todavia, como citado anteriormente, o Painel não abraça o mercado independente que, em muitos casos, autores publicam seus livros sem registrar um ISBN, mesmo que este seja um registro fundamental.
Impacto: autores estreantes sofrem e editoras podem reduzir apostas em lançamentos diversificados.
3. Gêneros em transformação
Não Ficção Trade (biografias, autoajuda) domina (29,81% do faturamento), enquanto Ficção perde espaço (-2,16 p.p.), mesmo com preço médio maior (+2,11%).
Por quê? O período pós-pandemia tem mostrado um aumento nademanda por conteúdos práticos e educativos, que promovem o autoconhecimento (ex.: finanças, bem-estar).
Já os livros infantil/Juvenil sofreram queda no preço médio (-4,41%), sugerindo uma guerra de preços ou excesso de estoque.
4. O paradoxo do desconto
Como apontado no relatório (página 4), se todos os livros fossem vendidos sem desconto, o faturamento seria R$1,6 bi (vs. R$1,2 bi real). A partir desses números, podemos entender que o mercado está “treinando” o consumidor a só comprar com promoção.
Como comparação, em 2025, a média global de desconto em livros (em mercados como EUA e Reino Unido) ficou em ~20% (dados da Nielsen BookScan – UK Market Overview). O Brasil (37,17%) está quase o dobro – o que pode ser um sinal de hipercompetitividade ou excesso de estoque.
Conclusão: desafios e oportunidades
O relatório de maio do Painel do Varejo de Livros de 2025 revela um mercado em transformação, marcado por crescimento expressivo, mas também por contradições que exigem reflexão. Por um lado, os números mostram um setor aquecido, com aumento de 20,09% no volume de vendas e 19,67% no faturamento, indicando que o livro continua a ocupar um lugar relevante no consumo dos brasileiros.
No entanto, esse crescimento vem acompanhado de descontos médios que saltaram de 21,22% para 37,17% em apenas um ano, um sinal claro de que o mercado está priorizando volume em detrimento da rentabilidade.
Ficaremos no aguardo dos próximos relatórios, na expectativa de como o mercado equilibrará promoções e valorização do conteúdo. Enquanto descontos agressivos impulsionam vendas no curto prazo, estratégias de longo prazo—como políticas de preço fixo, incentivo à diversidade literária e transparência de dados—serão essenciais para garantir um ecossistema saudável e plural.
Acesse o relatório completo
Para ter acesso ao Painel completo, bem como outras pesquisas promovidas pela SNEL, acesse o link abaixo:
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