No último dia 4 de novembro, o Jabuti deu a Chico Buarque o cobiçado prêmio de mehor livro do ano na categoria ficção.
Sempre que uma premiação é feita, há os que aplaudem e os que discordam, tecendo injúrias para todos os lados e acusando as instituições de falta de transparência, de privilégios políticos e de incontáveis outros “atentados” contra a as suas próprias integridades morais. O Jabuti, prêmio máximo da literatura brasileira, não ficaria de fora desse panorama.
Mas o caso foi agravado com um fato que chamou bastante atenção: o mesmo livro “Leite Derramado”, de Chico Buarque, vencedor do prêmio na categoria Melhor Livro de Ficção, ficou em segundo lugar na categoria Romance, perdendo para Se Eu Fechasse os Olhos Agora, de Edney Silvestre.
A contradição (como um livro pode tirar segundo lugar em uma categoria secundária e primeiro na categoria principal?) gerou manifestações pouco antes tetemunhadas no mercado literário brasileiro. A Editora Record – maior grupo editorial do país – anunciou que boicotará o prêmio a partir de 2011. Em nota, o presidente do grupo, Sérgio Machado, chamou o Jabuti de “concurso de beleza” e afirmou ser algo mal pensado. Veja entrevista com Sérgio Machado clicando aqui.
Na outra ponta, José Luiz Goldfarb – curador do Jabuti desde 91 – disse que a atitude da Record era mero “choro de perdedor”. A Câmara Brasileira do Livro (CBL), organizadora do prêmio, esclareceu que o regulamento foi seguido à risca. Segundo ele, concorriam ao prêmio de Melhor Livro do Ano de Ficção os três vencedores das categorias Romance, Contos e Crônicas, Poesia, Infantil e Juvenil (independentemente das posições ocupadas).
Com um juri diferente, era natural que as escolhas fossem também diferentes. Veja a nota da CBL clicando aqui.
Enquanto a briga acontecia, a Web também virou palco para um abaixo-assinado entitulado “Chico, devolva o Jabuti” – que já conta com mais de 5 mil assinaturas. Para ver, clique aqui.
O mais incrível dessa história toda é que os perdedores são, qualquer que seja o resultado, os mais inocentes.
Independentemente de gostos literários, Chico Buarque não tem culpa alguma de ter sido premiado – mas está sendo colocado como vilão e tendo o seu nome enlameado.
Os autores da Record – incluindo personalidades como Ferreira Gullar, Edney Silvestre e Mário Sabino, dentre tantos outros – ficarão de fora ao menos da próxima edição.
Perde também o nome do Jabuti com tamanha publicidade negativa – mesmo considerando que, verdade seja dita, o seu regulamento foi cumprido à risca e todos os participantes o conheciam antes de fazer as inscrições.
Mas quem mais perde, infelizmente, é o público composto de autores e leitores apaixonados pela literatura, que testemunham o desgaste desnecessário de uma das mais importantes referências modernas do mercado editorial brasileiro. Uma pena.
Se o Leite Derramado veio de Budapeste, com certeza está coalhado. O excelente poeta da música popular brasileira Chico Buarque, infelizmente, passou para uma praia que não é a sua.
Tudo isso que foi relatado é uma grande tristeza para a literatura em si e, sobretudo, aos amantes dela. Eu confio plenamente na lisura deste prêmio literário, o maior expoente do Brasil.
Com certeza, a atitude destas editoras, que visam apenas o lado comercial, não corresponde à opinião de seus autores, que entendem o espírito de um prêmio literário.
A esperança é que tudo isso não passe de aspirações infundadas no calor do nervosismo. A humildade deve acompanhar tanto o vencedor quanto o perdedor.
Fábio Mendes Paulino
Um autor, do Clube de Autores.
Para mim ficou evidenciado um forte vies politico com a premiacao do Chico. Demonstrando que tambem na literatura "os politicos da hora" querem controlar e premiar apenas aqueles que fazem parte da "turma" dos "estamos de acordo". Uma grande pena e uma prova de que a CBL tornou-se mais um tentaculo politico do PT. Porem, continuo a acreditar na critica exercida pela populacao culta.
Sergio Zurawel
Autor de "ALMA NOMADE".