A última coisa que pretendo aqui é escrever qualquer coisa – absolutamente qualquer coisa – de cunho político. Se tem uma coisa que uma empresa de autopublicação adota como sagrado, afinal, é a livre expressão e o respeito à opinião de todos.
Ainda assim, não dá para não observar tudo o que está ocorrendo com o nosso país de um ângulo mais… digamos… profissional.
Sim, porque todo e qualquer movimento dramático de capte as atenções de um país inteiro, levando multidões às ruas e elevando o estado geral de ânimos, merece um respeito além do normal.
Quer acreditemos em um lado ou outro, nenhum de nós pode negar que estamos testemunhando, em primeira mão, a História ser feita. Estamos com uma chance rara de poder inclusive arriscar palpite sobre o que dominará capítulos inteiros de livros que ainda estão por ser escritos, vendidos, adotados em escolas, base de formação de estudantes que ainda sequer nasceram.
E aqui vale uma análise mais fria, mas não menos importante: para escritores, aqui nasce quase que uma responsabilidade de passar para as gerações futuras um pouco da noção de como era viver nesses tempos tão insanos que vivemos. Porque veja: não é nos livros factuais, didáticos, que aprendemos o que foi a Revolta de Canudos, a II Guerra, a Revolução Francesa. A esses, cabia apenas a responsabilidade pro-forma de nos fazer decorar o passado – algo totalmente diferente de entendê-lo.
Um Conto de Duas Cidades, do Dickens, ou os Miseráveis, de Victor Hugo, dizem mais sobre a Revolução Francesa que qualquer livro de história. A Dor, de Marguerite Duras, vai muito, muito além das obras tradicionais sobre aqueles tão negros tempos dos anos 40. A Guerra no Fim do Mundo relata de maneira muito mais emocional aqueles fatos tão pouco secos que varreram os sertões baianos em tempos de Conselheiro.
E porque digo isso? Porque, em sua maior parte, essas são obras que têm romances como protagonistas e histórias como pano de fundo.
Exatamente como na vida real.
Nesse sentido, nós, autores, temos a oportunidade de escrevermos histórias sobre o que quer que seja usando esse momento dramático brasileiro justamente como pano de fundo.
É isso, muito mais que qualquer reportagem do Estadão, da Globo ou da Folha, que imortalizará os nossos tempos.
É hora de criarmos a visão que nossos descendentes terão da nossa história.