Teremos, um dia, uma obra prima global?

Procuro sempre guiar o meu hábito de leitura pelos extremos: quando leio autores daqui mesmo, do Clube, ou outros brasileiros como Guimarães Rosa ou Graciliano Ramos, equilibro-me com um Murakami, um Pamuk ou um Tosltoy. São espécies absolutamente diferentes de literatura – espécies que beiram a incompatibilidade criativa. 

Aqui, no ocidente, tendemos a ser mais sucintos e mais mergulhados nas histórias do que nas formas. Não que as formas sejam desprezadas – mas elas existem mais para embalar alguma mensagem mais densa e disruptiva. 

Do lado de lá, tudo muda: a forma é protagonista. Para ficar em um exemplo: Vermelho, de Pamuk, é um livro construído nos mais delicados detalhes, chegando ao ponto de ter como narradores um cavalo, a cor preta, uma árvore. Os pontos de vista das coisas se entrelaçando em um enredo é algo brilhante por si só. 

Essa minha viagem constante pelas fronteiras da literatura tem me feito me perguntar algo: será que, um dia, teremos uma espécie de obra prima que una essas duas características como nenhuma outra? Será que, um dia, teremos algum livro composto com o detalhismo do hemisfério de lá somado à brutalidade genial do hemisfério de cá? 

Se isso ocorrer, arrisco-me a palpitar, será por agora: em nenhum outro tempo tantas ondas de imigração se sucederam, resultado de guerras e misérias, enevoando as fronteiras entre ocidente e oriente. Quanto menos fronteira, claro, mais união cultural se pode esperar.

Se isso ocorrer, arrisco-me a palpitar, será também por aqui, no universo da autopublicação – dificilmente um editor tradicional, antiquado, avesso a inovações, conseguirá sequer entender o poder de uma literatura universal.

Dos meus dois lados de cá – o do Clube de Autores e o de um leitor qualquer – fico na torcida para que esse dia em que uma obra prima universal, uma obra que una o melhor dos dois mundos do nosso mundo, seja logo composta. 

 

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Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

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