Amanhã cedo rumamos para a Flip – pela oitava vez seguida, acrescento.
Muita coisa mudou desde a nossa primeira ida, em 2009, quando fomos apenas eu e minha solidária esposa para sondar o ambiente e testar o conceito do recém nascido Clube de Autores. De lá para cá nos profissionalizamos, nos tornamos empresa de verdade e fomos somando centenas, milhares, dezenas de milhares de autores.
Passamos por momentos difíceis na vida do país – e que certamente repercutiram nas nossas próprias vidas. Cruzamos eleições conturbadas, manifestações acaloradas, uma Copa do Mundo questionada, impeachment, crise e a implosão do mercado editorial tal qual ele existia há séculos.
Gerir uma empresa no Brasil, principalmente na área da cultura, é tão perigoso quanto viver nos sertões de Guimarães Rosa. Dá medo.
Mas há contrapartidas – é claro. Nesse tempo todo, conhecemos autores fabulosos, participamos da concepção de verdadeiras obras de arte que só engrandeceram a cultura brasileira, recebemos reconhecimentos importantes dentro e fora do país, criamos novos braços de negócio para melhor atender aos amantes da literatura e, a despeito de toda aridez do ambiente de empreendedorismo nacional, crescemos e nos consolidamos. Dá orgulho.
Entre o medo e o orgulho, sentimentos que se comportam como irmãos gêmeos improváveis nessa estrada que decidimos trilhar em um já tão longínquo 2009, o único ponto fixo foi a Flip.
Foi nas ruas difíceis de Paraty que muitos dos nossos planos foram traçados; foi nas casas coloniais que usamos como bunkers culturais que conseguimos parar um pouco, isolados da conturbação de São Paulo, para olhar e entender os rumos que queríamos ir. Foi lá em Paraty que compartilhamos nervosismos e comemorações e que concluímos que – ainda bem – havia muito mais histórico e perspectiva de comemorações do que de nervosismos.
A Flip não apenas faz parte da nossa história – ela é testemunha, talvez a mais velha de todas, do quanto caminhamos e mudamos de 2009 para cá.
Amanhã cedo rumaremos para mais uma Flip.
A ansiedade já pipoca o peito com a mesma força da saudade daquele povoado tão importante para a história do Brasil e do Clube.
A certeza de que novos planos e ideias tomarão forma dos seus ares de leve melancolia já é sólida como as rochas de seus chãos.
Que seja mais uma Flip sensacional.
E que, ao mesmo tempo, continue sendo “apenas” mais uma perto das tantas que certamente ainda hão de vir.
Aos que forem para Paraty, não se esqueçam de nos visitar em nossa casa à Rua da Lapa, 375, bem na entrada do centro histórico. Estaresmo lá de braços abertos e com uma programação intensa para fazermos o que mais amamos fazer: compartilhar histórias.