Sobre realidades e instalações artísticas

Fui à Bienal de Artes de São Paulo no final de semana passado. Meu objetivo, como provavelmente o de tantos espectadores que lá se faziam presentes, era um só: interromper o cotidiano para ver, ouvir e sentir um tipo mais insano e contemporâneo de arte. 

Para quem não conhece a Bienal, explico: foi-se o tempo em que essa expo gigante conciliava, no mesmo gigantesco espaço, instalações psicodélicas de novos artistas com obras primas de Dali, Magritte, Tarsila, Picasso e outros gênios imortais. Hoje, a Bienal é exclusivamente dedicada ao novo, a uma espécie de entrega do disruptivo sem nenhum parâmetro do tradicional que prove que sequer haja uma disrupção. 

E isso não é uma crítica. Pensando bem, também não é uma elogio: é uma espécie de constatação que cheguei sem largar um pouco do espanto. 

Entre espelhos falsos que mostravam que a realidade do outro lado era um reflexo de nós mesmos e projeções de cenas entediantemente cotidianas, transformando o dia-a-dia mais enfadonho em expressão máxima de nós mesmos, o que vi na Bienal foi uma coisa só: a vida real, que todos vivemos todos os dias, só que feita de material sintético ao invés de carne e osso. 

E me ocorreu outra coisa: ao sair da Bienal e me deparar com os skatistas na marquise do Ibirapuera, os grafites espalhados pela cidade, os carros dirigindo seus motoristas monorritmicamente e até o céu cinza abafando a metrópole, percebi que só o que diferencia a exposição da realidade são as paredes e as bilheterias. Ou seja: no final das contas, reservamos um tempo na agenda e pagamos para ver uma expressão da mesmíssima realidade que já nos cerca todos os dias. 

A liberdade de expressão em nossos tempos é tamanha – ainda bem – que conseguimos derrubar de maneira decisiva a barreira que costumava separar vida e arte, ficção de não ficção, desejo de viabilidade. 

Ou, colocando em outros termos, a liberdade de expressão generalizada é tamanha que sequer precisamos mais de grandes exposições para vermos os nossos desejos e temores mais crus expostos diante de nossos olhos. Nossa vida, hoje, já se transformou em uma Bienal infinita. 

E o que isso quer dizer para nós?

Que essa nova liberdade anárquica, caótica, cotidiana, abre um campo inteiramente novo para um autodescobrimento sem paralelos na história da humanidade. Se já chegamos tão longe com tanto preconceito e conservadorismo fazendo força para nos manterem presos a um passado enfadonho, imagine agora onde poderemos chegar estando mais livres do . 

 

 

 

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Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

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