Imortalidade

No domingo passado, um dos meus maiores ídolos literários, o indo-caribenho V. S. Naipaul, morreu.

Tinha 85 anos e uma produção literária compatível com seu Prêmio Nobel.

Como era de se esperar, suas obras (como “In a Free State” ou “Uma Casa para o Sr. Biswas”) começaram a vender como nunca antes.

Há toda uma densa filosofia por baixa das ultrameticulosas frases e enredos de Naipaul – algo que inclui pitadas de otimismo epicuriano escondido por trás de um niilismo trágico, triste, fatal. Há desespero e desesperança em todos os seus livros na mesma medida em que pequenas luzes são vistas, embora a distância, em túneis tão escuros quanto improváveis. Há vilões e heróis encontrados não em personagens, mas nos impactos que estes causam em cada um dos leitores.

Há, enfim, tudo o que se pode esperar de um Nobel, de um mestre, de um… imortal.

Vida de escritor é curiosa.

Até domingo, nunca sequer imaginei a idade que Naipaul tinha ou como ele era na vida real: sua fisicalidade era irrelevante. Ao contrário: suas ideias e histórias, essas sim absolutamente atemporais, é que importavam.

E essas ideias, agora que seus dedos e sua mente se foram, parecem se espalhar a ritmos mais velozes. Quer mais imortalidade que isso?

Vida de escritor é curiosa: ela parece se intensificar justamente quando termina. Naipaul, aparentemente, formará muito mais opiniões agora que morreu do que enquanto estava caminhando pelo mundo.

Quer mais imortalidade que isso?

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

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