Ler é multiplicar tempos

Já fiz um post aqui no blog sobre o papel que a leitura tem em nos fazer colecionar tempo.

Não pretendo me repetir sobre o assunto, mas sim abordar a forma com que os nossos tempos tem contribuído para enriquecer o nosso acervo literário como nenhum outro na história da humanidade.

Antes, um resumo meio cru de como encaro a literatura: a partir do momento em que livros nos transportam para outros tempos e outras realidade, nos alimentando de conhecimentos acumulados aos quais provavelmente jamais teríamos acesso em uma única vida, eles acabam alongando o nosso Tempo no mundo. Afinal, só sendo um louco para entender o poder da verdade carregada em Hamlet; só sendo um turco do século XVII para entender direito o quanto humanidade se opõe à perfeição como em Vermelho; só estando muito em contato com a própria brasilidade para se perceber como somos todos Macunaíma. Livros, portanto, multiplicam o nosso Tempo no mundo a cada nova experiência de vida alheia que nos permitem acumular.

OK… e o que isso tem a ver com a vida moderna? Tudo.

Primeiro, pela quantidade. Se vivêssemos nos ermos tempos do Nome da Rosa, precisaríamos ser teólogos, detetives e atletas para conseguir percorrer o mundo em busca dos poucos livros que se espalhavam pelos monastérios europeus. Nem precisamos ir tão longe: em nenhum outro momento da história da humanidade se tem tantos livros e com tão fácil acesso quanto hoje. Tem dúvidas? Navegue por minuto no Clube de Autores e veja as mais de 50 mil obras publicadas aqui apenas em 7 anos.

Segundo, pela disponibilidade. Se livros eram restritos a poucos exemplares guardados como preciosidades (e, portanto, pouco acessíveis a todos), hoje eles são mais disponíveis do que orvalho à noite.

Há livrarias espalhadas por todas as cidades esbanjando acervos de dezenas de milhares de livros. Há a Estante Virtual que reune uma rede imensa de sebos e faz da falta de estoque um problema essencialmente inexistente. Há Apple, Google e Amazon entregando ebooks que podem ser lidos nos mais diversos devices. Há Audible e Ubook fazendo livros entrarem pelos nossos ouvidos.

Esse é, inclusive, o terceiro ponto: as diferentes formas. Uma coisa é ler livros, tarefa que exige, obviamente, um mínimo de “atenção ocular”. Outra coisa é ouvi-los.

Ouvir livros é algo que pode ser feito quando se está preso no trânsito, quando se está correndo no parque, quando se está batendo perna no shopping. E veja que maravilha: ao invés de passar horas encarando uma fila de faróis vermelhos parados na Marginal pensando no vácuo, pode-se ouvir os contos de outros mundos de V.S. Naipaul ou Chinua Achebe.

E, de carona com esses mestres, pode-se entender o mundo sob as suas óticas, aprender com as suas visões e crescer com as suas imaginações. Pode-se acrescentar mais Tempo ao nosso tempo, mais vida à nossa vida.

Vivemos uma era singular em que podemos inserir séculos ou milênios, de maneira quase gratuita, no tempo que temos sobre esse nosso mundo.

Isso não é incrível?

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

Um comentário em “Ler é multiplicar tempos

  1. Interessante a postagem, realmente ler um livro é vivenciar o tempo do autor. Não havia me detido sobre esses aspecto da leitura. Até hoje, quando lembro dos livros que li, lembro-me de algumas passagens como se tivesse vivido as cenas pensadas. Muito bom sua postagem.

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