A aventura presa no cérebro

Em 1988, o escritor Christopher Nolan venceu o prêmio Whitbread – um dos mais famosos do Reino Unido – por conta da sua autobiografia, Sob os Olhos do Relógio.

O que isso tem demais?

O autor.

Ao nascer, o irlandês Christopher Nolan passou por uma série de complicações no parto e acabou tendo um caso severo paralisia cerebral que o deixara essencialmente inerte. Ao longo de toda a sua infância, entre os anos 60 e 70, seus pais lutaram arduamente para garantir um mínimo de educação e mesmo convencer o governo de que aquele pedaço praticamente imóvel de carne esparramado sobre a cama estava, efetivamente, aprendendo.

Foi, provavelmente, uma das infâncias mais áridas que se pode sequer imaginar, traçada em meio a uma batalha diária por sobrevivência, resiliência e, sobretudo, por um milagre.

Quando Nolan fez 10 anos, o milagre finalmente veio: um novo medicamento passou a ser testado nele e permitiu que sua musculatura relaxasse o suficiente para que ele pudesse controlar pelo menos parte dos movimentos da cabeça e dos olhos.

Foi o suficiente para destrancar uma mente brilhante que vivia apriosionada pela escura pressão da incomunicabilidade.

A partir daí, seus pais criaram uma espécie de braço mecânico preso à sua cabeça que o permitia se comunicar com o mundo a seu redor, apontando letras que eventualmente formariam palavras, frases, parágrafos e… livros.

Assim, mesmo sem nenhuma possibilidade de devorar o mundo ao seu redor de forma físico-metafórica, Nolan conseguiu destrancar seu cérebro e narrar aventuras reais que se passavam dentro de si, enquanto se digladiava com as tantas adversidades impostas a si pelo destino.

Mesmo considerando que escrever era uma tarefa árdua – Nolan precisava “pinçar”, lentamente, letra a letra – ele acabou tendo uma produção inacreditável: foram 4 livros, um mais incrível que o outro, responsáveis por transportar o leitor para dentro de uma das mentes mais aprisionadas que o mundo já testemunhara.

Christopher Nolan morreu aos 43 anos, em 2009, engasgado em um pedaço de salmão.

Seus 43 anos de vida, no entanto, marcaram o mundo mais do que os 80, 90 ou 100 anos de muita gente.

Seus 43 anos de vida provaram que tempo não se mede com relógios e calendários, mas sim com histórias.

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

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