O que política tem a ver com literatura?

Ultimamente tenho feito alguns posts com um teor mais político que literário.

Como todos, tenho também as minhas crenças políticas que sempre tentei manter distante daqui do blog e do Clube como um todo. E juro: na medida do possível, busco sempre ser o mais neutro que consigo.

A questão é que é impossível dissociar política de literatura pelo simples fato de que a segunda é filha direta da primeira.

Como? Ora… se a literatura é o conjunto de histórias nascidas em um determinado período, e se um determinado período tem seus contornos desenhados pelos efeitos das decisões políticas tomadas pelas suas lideranças, como negar a relação entre ambas?

Como negar a incrível análise de poder de Tolstoi em Guerra e Paz ou os efeitos da falência do “establishment” em Crime e Castigo, de Dostoiévsky? E nem precisamos ir tão longe, claro: como negar que uma obra prima como Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos, foi escrita também pela perseguição política que manteve preso por tanto tempo?

E Castro Alves com seu discurso abolicionista? E Alcântara Machado com sua biografia de uma São Paulo tomada por imigrantes italianos na primeira metade do século XX?

E a literatura de periferia que, hoje, já é praticamente um gênero completo que nasceu a partir da desigualdade social gerada – claro – pelas decisões políticas brasileiras?

Tenho para mim que, como a política é uma arte empírica, ela se impõe a sociedades como ondas com efeitos imprevisíveis. Essas ondas geram tanta beleza quanto desastre – tudo depende das suas forças e dos seus efeitos, claro. Mas a cada vazante, duas consequências são sempre deixadas: os desastres e as histórias que os acompanham.

E, se não há como entender a literatura senão como filha direta da política, que todos nos aprofundemos o máximo possível nesse pano de fundo onipresente de todas as histórias que escrevemos em nosso cotidiano de autor.

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

7 comentários em “O que política tem a ver com literatura?

  1. Política e Literatura… Neste ano fiscal de 2017, podemos observar pela pessoal do Presidente da República, tendo uma bela companheira, escreve versos e estrofes, enquanto cumpre a sua função de administrar o País. E o que podemos dizer sobre Azevedo, Machado, entre outros autores que participaram ativamente da politica nacional…

  2. Saudações.
    Vou tentar comunicação via blog porque nunca consigo retorno pelo ‘atendimento@clubedeautores’… e percebo que aqui as interações são respondidas pela equipe…
    Desde a semana passada não consigo fazer upload de nova obra em minha conta. No procedimento final, quando o pdf deve ser carregado, aquela barra horizontal roxa fica ‘lendo para sempre’ e o erro 504 indica que o host da empresa não está respondendo. Peço retorno (felipecbranco@hotmail.com) e solução do problema. No aguardo. Att., Ben Mathias.

    1. Oi Ben. Vou falar com a equipe de atendimento. Você mandou email quando a eles? Pergunto porque eles sempre, sempre respondem em no máximo um dia útil. De toda forma, já os acionarei imediatamente.

    2. Acabo de receber o contato e fico no aguardo. Muito obrigado.
      Sobre o atendimento@, eu enviei o primeiro email na sexta-feira passada… Em outra oportunidade, quando tive problema com formatação de capa, também não consegui retorno. Acredito que tenham sido eventos pontuais (mensagens de email podem se extraviar…) porque sempre leio elogios a respeito da atenção ao cliente e pronto atendimento… Mas foi a forma indireta que eu consegui contato mais rápido. Obrigado duplamente.
      Agora é aguardar a solução técnica para o problema e continuar a usar a plataforma.
      Obrigado, equipes.
      Att.,
      Ben Mathias.

  3. Uma literatura que não fale com a realidade, expondo problemas atuais ou futuros, questões filosóficas ou existenciais e/ou indagações políticas, é pobre. O primeiro grande desafio do escritor é não deixar que essas questões sequestrem sua história a ponto de fazê-la deixar de entreter. O segundo é conseguir fazer o leitor pensar e refletir por conta própria, indicando-lhe as perguntas para que ele busque respostas, ao invés de tentar doutriná-lo com uma resposta pronta e “certa”.

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