Autopublicação, mercado editorial 50 Tons de Cinza

É comum termos autores com aquela sensação romântica de que basta escrever um livro e “ser descoberto” por editoras de grande porte para se tornar um best-seller. Tão incomum quanto irreal, diga-se de passagem, principalmente quando se está em um país como o Brasil. E não digo isso por termos carência de talentos – eu sinceramente acredito que temos mais escritores qualificados aqui do que em qualquer outro pais do mundo.

No entanto, nosso mercado editorial (tradicional) é conservador, antiquado e vive com um pânico permanente de correr riscos. E o que acontece quando não se quer correr riscos no mercado editorial? Evita-se apostar em lançamentos, concentrando as atenções nas traduções de títulos que já se mostraram best-sellers em outros países.

Vá a uma livraria qualquer e veja por conta própria. Conte quantos títulos de autores brasileiros novos existem e compare com americanos, ingleses, franceses, italianos, espanhóis. Somos minoria em nosso próprio país, mesmo considerando que temos mais de 200 milhões de habitantes. E não adianta vir com o batido chavão de que “brasileiro não lê”. Dado o tamanho da nossa população, podemos nos dar ao luxo de ler infinitamente menos livros por ano do que suecos, franceses e argentinos e, ainda assim, seremos um mercado maior.

Arrumar justificativas para a falta do sucesso repentino, isso sim, é um hábito brasileiro que deveria ser deixado de lado. Até porque temos um caminho claro para isso no mercado editorial: a autopublicação.

Autopublicação não dá mais trabalho do que conseguir uma editora: ao contrário, é muito mais rápido, bastando acessar um site e publicar o livro na hora. A autopublicação também traz a bênção de despir os autores de qualquer falsa expectativa de sucesso miraculoso: a venda é resultado direto não apenas da qualidade literária, mas também do esforço de cada autor em se promover. E quer mais? A autopublicação já se provou uma estratégia de sucesso em todo o mundo.

Aqui mesmo, no Clube, temos casos de livros que saíram do site para encabeçar listas de best-seller em todo o mundo. E fora do Brasil temos um caso que prova que esse fenômeno não é brasileiro, mas mundial: 50 Tons de Cinza. Como todo best-seller, esse livro recebe críticas bem contundentes – mas é difícil negar que suas mais 100 milhões de copias vendidas não caracterizem um sucesso editorial quase sem precedentes. E sabe de uma coisa? O livro não foi descoberto por uma editora assim, do nada. Ao contrário: sua autora, E. L. James, foi justamente para um site de autopublicação australiano.

A partir daí, ela trabalhou: batalhou público, montou eventos e não economizou esforços. Com o tempo, ela foi conseguindo visibilidade, público e, claro, reconhecimento. E de um pequeno site de autopublicação, acabou chegando ao Olimpo dos sucessos editoriais.

Não tenho o case completo de 50 Tons de Cinza aqui – mas basta saber que ele começou em um site do mesmo estilo que o Clube de Autores (embora com um alcance menor que o nosso).

E essa noção é importante por dar duas informações fundamentais para qualquer autor autopublicado:

1) É possível, sim, atingir todo o sucesso sonhado a partir da autopublicação; 2

2) Possibilidade, claro, não é certeza: sucesso é consequência de um trabalho que vai muito além de se publicar um livro.

Aqui, no Clube, já somamos uma série de ferramentas interessantes para autores – de cursos online gratuitos a eventos físicos a parcerias de financiamento colaborativo. Usar essas ferramentas, claro, também não garante sucesso a ninguém – mas é (certamente) melhor do que nada.

Nunca conseguiremos (ou mesmo tentaremos) entregar uma receita de bolo para ninguém – mas sempre faremos de tudo para entregar as melhores panelas e ingredientes para cada autor. O que cada autor fizer com elas é o que resultará no seu próprio sucesso.

Mãos à obra.

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

9 comentários em “Autopublicação, mercado editorial 50 Tons de Cinza

  1. Grandes autoras como J Rowling, Thalita Rebouças e Lycia Barros ralaram muitíssimo pra chegara onde chegaram.
    Nenhum autor faz sucesso sem se esforçar. O prestígio demora mesmo pra vir. O importante é nunca desanimar.

  2. O texto é esclarecedor, porém o título poderia ser melhor escolhido. Acreditar que 50 tons de cinza foi obra do acaso seria o mesmo que acreditar em papai noel, impossível para um adulto bem informado.
    Vivo no exterior, sou professora, trabalho com literatura e sei da real história do livro. A Autora segundo informações de um editor próximo, era blogueira consumista de todo material do best seller antecessor a ele : a saga do “Crepúsculo”. Ela recebeu a encomenda de escrever um romance sem o açucar deste em função de gerar uma explosão em pimenta pura daquele.
    Não sei a quem interessou esse circo todo, aliás, peço perdão pelo substantivo circo tendo sido usado como adjetivo. QUis dizer que isso foi uma encenação cômica.
    O fato é que autopublicação é bem vinda e dá resultados sim, entretanto, ao abordar o tema, por favor, prefiram autores que o fizeram sem recomendação
    (encomendação…) prévia. Há muitos autores em nossa querida literatura brasileira que o fizeram e na internacional também.
    Desculpe se ao ser sincera pareci ácida. Deve ser a cor…ou melhor, ausência dela…nunca gostei de cinza mesmo…
    sucesso a todos e obrigada pelo espaço democrático.
    Da Flórida, um abraço virtual,
    Lucia.

    1. Lúcia, mas em nenhum momento foi dito que 50 Tons de Cinza foi obra do acaso. Ao contrário: o que sempre postamos aqui no blog é o oposto: livros são como empresas e dependem diretamente do esforço do empresário (no caso, o escritor) para ter sucesso. Isso inclui aprender e dominar a arte do marketing pessoal, firmar e manter relacionamentos no meio, criar uma base de leitores usando as próprias redes sociais que estão aí para todos.

      Sucesso, mais neste mercado do que em qualquer outro, depende de muito, MUITO suor.

  3. Não quero fazer sucesso nem me tornar uma grande escritora, quero apenas contar alguns casos que se passam nos mais distantes confins, para quem quiser ler e se tornar curioso pelo desfecho, construir um final ou apenas refletir.

  4. Ainda não publiquei o meu, mas estou nessa guerra, trabalhando bastante para que eu não pare no primeiro e venha a alcançar o sucesso.

  5. Triste realidade, sem mencionar que é muito difícil e muito caro também para publicar uma obra pra quem está iniciando, eu mesmo estou escrevendo um romance Lgbts e não pretendo lançar, mas vou registrar o meu livro e olha que mesmo assim nem sei como fazer, mas, depois vejo isso, no momento o que me interessa mesmo é escrever mais e mais.
    Mesmo que eu lance alguma obra, eu mesmo não espero que ela faça sucesso, é melhor manter os pés no chão!

    1. Tom, me permita discordar de você. Primeiro, porque publicar não só é fácil como é gratuito: é só ir a http://www.clubedeautores.com.br e deixar a obra no ar. E, segundo, porque se você não acredita em sua própria obra, dificilmente conseguirá mobilizar um conjunto de leitores. Um livro, nesse aspecto, é como uma empresa nova: seu sucesso depende diretamente do quanto o escritor acredita nas letras e batalha pelos olhos de seus leitores. Espaço, há – da mesma forma que há uma concorrência grande.

      E, embora não exista garantia de sucesso (tanto no mercado editorial quanto em qualquer outro do mundo), impedir que terceiros tenham acesso à sua obra é garantia de insucesso.

      Enfim…. me perdoe a franqueza, mas achei importante pontuar isso.

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